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Sunday 18 September 2016

Explosão de sabores e tradição no verde Minho

O dia era há muito aguardado, pois eram muitos os anos que já não rumava à (uma das) joia da coroa do Minho. Ponte de Lima, a mais tradicional e limpa vila do Minho, se não mesmo do todo o reino luso, à boleia deste boom turistíco reinventou-se. As ruas estão (ainda) mais cheias e os spots multiplicaram-se, porém ainda se vive e respira tradição que sempre a caracterizou. Vale a viagem.




Nome: Manel Padeiro
Data da visita: Agosto de 2016
Localização: centro de Ponte de Lima
Comentário: Ponte de Lima faz parte das minhas memórias de infância. Outrora sem os acessos por auto-estrada, a viagem era feita pelas sinuosas e movimentadas estradas nacionais. Os 30km ou algo do género que em linha recta separam a vila do mar, são suficientes para incrementar a temperatura  em meia de dúzia de graus. A ementa era invariavelmente e sem hesitação o prato-montra da terra: os rojões com arroz de sarabulho. Cheguei a experimentar uns quantos spots mas um havia que era merecedor da nossa maior atenção e dedicação, o Manel Padeiro, localizado bem no centro da zona velha, num beco da rua principal que vai dar ao rio. 
Para o leitor que não domine o prato e/ou a zona, atente que falar de sarrabulho em Ponte de Lima é como falar de francesinha na naçon ou de caracol na capital: se perguntar a 10 pessoas qual o melhor spot terá 10 diferentes respostas ... por isso, o melhor é ir e firmar a própria opinião. Para mim, o Manel Padeiro, é e será sempre o sítio de eleição para comer o sarrabulho à beira Lima, ... btw  o rio que banha a vila.
Atente o leitor/comensal que em períodos como fins de semana, e principalmente no verão, reserva é aconselhável. Os comensais/veraneantes são mais que muitos e facilmente as casas atinjem a sua lotação por volta do meio-dia. Bom sinal, pois não seria assim, se não valesse a pena, certo?
Sentados e instalados na esplanada sob a protecção de guarda-sol obrigatória, em dia de calor intenso, pedimos os rojões com sarrabulho. O staff simpático e com saber na arte de receber, ou não estivessemos no Minho, bem treinado na arte de despachar, no bom sentido da palavra, as hordas de comensais, em menos que nada nos presenteia com o muito esperado pitéu. Os rojões, em que não faltavam os nacos de porco, sangue e tripa enfarinhada, estavam divinais e a primeira dentada foi uma regresso aos meus tenros anos. Top! O arroz, bem feito, cozido no ponto com bom sabor ao sangue e especiarias. Diga as palavras que disser, dificilmente conseguirei descrever a explosão e sabores e sensações proporcionadas. A qualidade dos ingredientes pareceu ser irrepreensível e a dose de sarrabulho generosa q.b. para dois comensais de sustento. Houve ainda espaço para fazer um bis  de arroz, não porque fosse insuficiente mas por pura gula.
Para acompanhar o petisco, e de outra forma não poderia ser, uma caneca de 0.75cl de verde tinto de uva vinhão de Ponte de Lima. Digo e recomendo que deixe de lado as cartas de vinhos, respire o ar puro do Minho e opte pelo verde tinto da terra. Não é consensual, verdade, mas a simplicidade deste vinho é a melhor opção para lidar com a complexidade do prato. Aromático, com algum pico e acidez evidente, deu mostras que também se evoluiu nos verdes tintos. Longe os tempos dos vinhos carrascão, com acidez e adstrinjência suportável por muito poucos. 
 Chegado o momento de passar à sobremesa, concluimos que nao havia espaço para acomodar ... sarrabulho enche ... mesmo! Pena, pois ficou a por saciar a curiosidade sobre que iguarias nos proporcionariam. Fica para um repeteco.
A conta, essa ficou por um valor abaixo dos 20€/pax, que poderá subir ligeiramente com sobremesas, mas que mesmo assim é um valor mais do que razoável para a refeição em causa. 
Repeteco? Já me descaí acima, a dizer que sim. Claro que haverá repeteco!


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Sunday 11 September 2016

Viagens na Madeira I

Quis o fado que este vosso narrador rumasse à Pérola do Atlântico, um dos redutos da exploração Lusa dos mares e dos perigos que encerravam. Se dúvida ainda existe, estou a referir-me à ilha da Madeira. E desengane-se quem acha que na Madeira é só espetada em pau de louro e restaurantes caros para turista inglês pagar para comer batata frita com maionese.






Nome: Casa da Palha
Data da vista: Agosto de 2016
Localização: São Jorge, Madeira. Por trás da Igreja de S. Jorge.
Comentários: a visita a este spot foi obra do acaso, pelo simples motivo que andava (desesperadamente) à procura de um posto de combustível. Alimentado o veículo, era hora de alimentar o condutor e seus ocupantes ... S. Jorge, é um complexo "urbano" de meia dúzia de ruas e ruelas pelo que 5min a calcorrear as ditas permitem fazer um "recon" (usando linguagem táctica militar) razoávelmente detalhado. Mesmo assim, encontrar a Casa da Palha não foi de todo fácil ... uma vez mais a sorte, que está sempre do lado dos justos e esfomeados, fez que com reparássemos numa placa mesmo junto à (lindissima já agora) Igreja de S. Jorge. Mão divina dirão os mais crentes.
O nome diz tudo ... o estabelecimento é composto por 2 ou 3 edificos, a lembrar cubatas, com tetos em palha, precisamente. No centro um pátio ou antes um adro, a servir de esplanada, onde só o clima tropical da Madeira permite usufrui de tal espaço praticamente todo o ano.
Sentados e instalados e já com os tablets e smartphones ligados a rede wifi da casa, ... haverei de um dia fazer um post todo ele dedicado à internet nos restaurantes, começamos a analisar a carta. Não era muito extensa e no dia havia dois ou três pratos de carne e outros tantos de peixe. O staff cordial e com um profissionalismo evidente indicou que a carne da noite e o frango à casa são especialidades da casa, palavras suficientes para que a escolha ficasse logo determinada.
Em tempo relativamente curto somos servidos e eis que se inicia um momento de registo na história da degustação gastronómica. A carne da noite, consiste em nacos de porco marinados durante toda a noite em vinha de alhos. A simplicidade do prato é assustadora, mais ainda tendo em conta o resultado final. A carne soculenta e tenra, cheia de sabor acompanhava com um arroz de forno simples, ervilhas cozidas e batata doce. KISS (Keep It Simple Stupid)! Um prato simples, mas extremamente bem feito, a lembrar comida da avó!
O frango seguia a mesma linha ... a carne era marinada, à semelhança do prato de porco e acompanhava com legumes cozidos e puré de batata, com um bom sabor a noz-moscada ... pelo menos parecia. Por momentos, senti que estava em casa a almoçar a um Domingo. Fantástico é dizer pouco! Uma prova que o simples consegue surpreender.
Para moer toda esta carne, foi chamado ao serviço um Grão Vasco, tinto de 2013, um clássico de entrada das terras de Dão. Perguntar-me-ão os mais atentos: oh Lambetacho, então aquela tua teoria de escolher sempre vinhos da casa e tal e coisa?! Bem visto. O problema é que os vinhos da Madeira são ESTUPIDAMENTE caros ... sim, se um clássico do Alentejo ou Douro, se arranja por 10€ a 15€ a 0.75cl, já os néctares da ilha não raramente os encontramos abaixo dos 20€ a 25€ a garrafa! Atenção, que isto não é um problema exclusivo da Casa da Palha ... é algo generalizado nas restaurantes da Madeira, que eu classifico como um erro estratégico crasso! Não deveria a restauração local, ser a primeira e a mais interessada em promover os vinhos locais? Porque irei eu pagar o dobro por um vinho de uma marca que nunca ouvi falar e ainda por cima de uma região muito atrás de outras com provas dadas? Esta é infelizmente, algo que observamos noutras regiões, como por exemplo o Algarve! Já repararam que os vinhos do Algarve, que raramente se vêem fora do Algarve, são bastante mais caros que os restantes? Faz sentido? Eu acho que não! À parte deste desabafo, devo dizer que o Grão Vasco, conseguiu comportar sem problemas a riqueza e complexidade de ambos os pratos.
Para fechar, avançamos para a sobremesa, que à semelhança da carta principal possui poucas referências. A escolha foi para uma tarde de côco. Fatia generosa, de fabrico caseiro, com boa consistência, fechou o repasto com chave de ouro.
A conta essa, ficou por um valor ligeiramente abaixo dos 15€/pax, um valor muito em conta para a qualidade da comida servida e do serviço providenciado. Nota muito positiva.
Repeteco? Se algum dia se proporcionar regressar aquelas paragens, com certeza que regressarei à Casa da Palha. Aos locais recomendo que se não conhecem, rumem ao norte da ilha. A quem lá vai de passagem, faça um esforço para que se proporcione uma passagem em S. Jorge e conheçam a Casa da Palha. Vale a pena!

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